
Silêncios passam por ti despercebidos. Silêncios que dentro de mim se acomulam e ansiosamente procuram uma saída. Talvez a saída não exista. Talvez a saída esteja fora do meu alcance, fora do meu corpo, fora da tua mente. A tua mente ou recusa ou não entende, talvez para ti seja transcendente, como o é para mim. Mas tu tens um transcendente diferente do meu. A tua transcendência é ainda mais distante do que o transcendente.
Infinitas palavras passam ao teu lado. Infinitas palavras com apenas um significado que flutuam à minha volta, que em mim entram e saem sem serem ouvidas. São palavras de apelo distorcidas pelo tempo, mas não perdem a simplicidade nem o significado primordial. E ficam ali, estagnadas, na esperança de um dia serem decifradas.
Olha para ti, olha à tua volta e agora olha para mim... Quem és tu? Quem são os outros? Quem sou eu?
Sou um labirinto e tu estás cá dentro adormecido.
Acorda!
Olha para trás, vê o que já atravessaste. Vê tudo o que em mim descobriste, tudo de mim que em ti marcaste. Tudo que de mim aprendeste, tudo que de mim evitaste, tudo de que me protegeste.
Temos suficientes diferentes e certezas guardadas que temos medo de partilhar, porque no fundo queremos a ingenuidade empírica do momento. Leva-me para a nossa solidão e deixa-me ser invadida pela multidão que só nos teus olhos encontro.