sábado, outubro 01, 2016

A lu ci na ção

Alucinação. 

É assim que crescemos agora.

Sonhei com os teus olhos. Estavam verdes, castanhos e azuis. Não, não havia vinho pelo meio. Todas as cores daquele sonho estavam a ser transmitidas por um cérebro sem nuvens. Até fui pôr os óculos enquanto dormia. Queria ver melhor o que os meus olhos fingiam olhar. Abri o armário e lá estavam eles, os olhos verdes. Olhavam para mim com ternura, com amor, com saudade, com vontade de me ficarem a olhar para sempre. Desviei o olhar ao sentir o sabor a sal nos lábios. Vou ter um filho com olhos verdes. Sabem vocês todos que terá olhos verdes, dê por onde der. Desafiando biologias e genéticas estandardizadas. 

Liguei a água do duche. Os olhos castanhos pairaram à minha frente. Olhei para eles e suspirei. Eles traziam consigo um pedido de desculpas, um nó de arrependimento, um vazio que só poderia ser preenchido se o tempo voltasse atrás. Encolhi os ombros e que o passado não volta, que as decisões foram tomadas. Disse-lhes que sempre tive pena, tanta pena. Anos de desencontros acabam por cansar e os que vivi com aqueles olhos... Foram demasiados. Nunca mais os vi, nunca mais me tinha lembrado deles. Desliguei a água. Evaporaram à mesma velocidade em que os espelho se desembaciou. 

Abri a porta de casa e entrei no elevador. Depois de carregar no botão olhei para o espelho e vi os olhos azuis. Inocentes, infantis. Idolatração, paixão, brincadeira. O que faltou para me conseguirem olhar sem medos? Perguntei ao olhos o que lhes tinha acontecido. Se estavam bem, se precisavam de falar comigo, se queriam voltar atrás. Silêncio. Olharam para baixo e antes que saísse do elevador, foram eles que desapareceram. Não me consegui mexer mais. Fiquei naquele elevador. As portas abriram-se vinte vezes antes que conseguisse sair. Os olhos não voltaram. 

Alucinação. 

quinta-feira, agosto 11, 2016

Change your heart, look around you

Some time. Everybody's gotta learn. That's what that song whispered. You heard it before so many times, but only now, only now you really understood, or only now, it really made sense inside of your heart. Stop chasing the wrong things... Start looking at the other side of the curtain. It has been said that the other side beholds what you blindly ignore in your every day life.
Late thoughts lost in amidst of red, red wine are usually the truthful ones. If not the truthful ones, then the ones with a little bit of truth biting your insides.
In life, CTRL-Z doesn't work. What's done is done. Run away. Correct it. Live with it. Whatever path you choose, it's done baby.
Will risk something now. The time is now. Until the morning

quarta-feira, julho 20, 2016

L.O.V.E

O filme. As passagens do livro.
O banho. A pele. O cabelo. Os lábios.
Estremecer.
Contorcer.
Envolver.
Respirar.

Um uivo quase desesperado no teu ouvido. Chamei, chamei, chamei. Só passado muito tempo é que ouviste e aí já eu estava no fundo da toca. Se tinhas medo antes, agora então sabias que a tua maneira de ver o mundo iria mudar. Eu trazia a loucura nos olhos e tu cedeste ao poder hipnótico. Rasgaste-me o vestido vermelho. Eu comandei-te.
O filme. As passagens do livro.
O banho. A pele. O cabelo. Os lábios.
Estremecer.
Contorcer.
Envolver.

Abro e fecho os olhos. Tento entender a realidade... Estou confusa. Acabei por te ir buscar para me matares a sede. Mata. Matas tão bem. Os teus olhos mudam de cor a cada beijo que te dou. O teu peito transforma-se em tela onde pinto o significado de desejo.
O filme. As passagens do livro.
O banho. A pele. O cabelo. Os lábios.
Estremecer.
Contorcer.

Tranquilo. Agressiva. Lento. Provocadora. Sereno. Desesperados!
O filme. As passagens do livro.
O banho. A pele. O cabelo. Os lábios.
Estremecer.

Podíamos ter ficado semanas ali deitados. Ficámos tanto quanto pudemos. Tu. Eu. Eu. Tu. Descobriste como o meu corpo funciona. Eu descobri como te tocar. Promete-me que nunca vamos deixar ninguém meter-se entre nós. Prometo. És tu.
O filme. As passagens do livro.
O banho. A pele. O cabelo. Os lábios.

Lutar.

terça-feira, julho 12, 2016

Ideias

Acho que vou para a praia. Queria uma deserta, mas não sei onde arranjar uma dessas nesta altura do ano. Posso sempre fazer da praia, deserta... Entrar no mar, nadar um bocadinho e olhar só para o horizonte. Deixar de sentir o peso do corpo. Sentir que aquele momento pode durar para sempre. Eu, o azul, o flutuar do corpo, da cabeça, de tudo o que me parecia importante e ali se esvai. Ali sai de mim. Ficar limpa da todas as ideias. Comecei a gostar mais da praia no dia em que me apercebi deste poder. As fotografias saem da minha cabeça, deitam-se no mar e vão-se embora ao sabor das ondas... Claro que voltam, o mar não tem poderes mágicos, mas voltam reformuladas.

segunda-feira, julho 11, 2016

Numa gaveta

Vi um filme. Vi dois. Vi três.
O terceiro foi sem querer. Foi um daqueles filmes que me sentei a ver, porque sim. Filmes que não vemos. Filmes que só vemos quando o cérebro já não consegue comer mais nada a não ser entretenimento fácil e fácil...
O momento crítico foi a parte em que me virei para o meu imaginário, falei na língua que não me lembrava mais saber e perguntei "e agora como é que ele se vai salvar se são todos maus?!!". Perguntei-te a ti, baby. Perguntei a nós. Perguntei à nossa relação. Vi-nos ali deitados no sofá (eu a 15 minutos de adormecer, tu felicíssimo por eu ter cedido a ver aquele filme). "Vais adormecer de qualquer maneira, vá lá". Tive tantas saudades disso. Tantas saudades desses momentos, outrora constantes e garantidos. Agora em pausa até aparecer alguém que encontre o mesmo significado no simples facto de estarmos ao lado um do outro. Queria dizer-te, queria gritar ao mundo que senti saudades tuas, saudades nossas. Tantas saudades daquilo que éramos juntos. Tu e eu. Eu e tu dentro do nosso pequeno mundo. Um mundo cheio de coisas boas, um mundo cheio de gargalhadas, palmadas e beijinhos. Um mundo em que fui tão feliz só por saber que naquela noite ia poder adormecer no teu peito e que no final do filme tu me ias arrastar para a cama, deitar-me (eu é que acabava por te deitar, apesar de todos os protestos). Aquele abraço antes de adormecer, aquele momento de infinita cumplicidade, aquele momento em que encostávamos a cara um no outro e assim permanecíamos até ao dia seguinte. 
Admito. Andei cheia de saudades tuas nos últimos dias. Saudades tuas talvez não seja a denominação certa da coisa. Nostalgia talvez torne a situação menos assustadora para mim. No entanto, seja qual for a descrição mais ou menos adequada, o que permanece é que senti e o que senti foi um vontade louca de te agarrar. 
Sim, isto é tudo normalíssimo. Q.b. Tudo normalíssimo q.b...
Amanhã já passou, depois de amanhã passou mais. Já aconteceu uma vez e foi porque... Porque estava sensível. Acho que voltei a estar sensível... 
Sai, sai. Fui às gavetas pegar nestas brincadeiras. Encontrei pedaços de qualquer coisa que na verdade já é nada.  

sexta-feira, junho 03, 2016

Braços Pintados

1.54.
Aterrador. 
Ligaste isto na esperança de teres algo a dizer, na esperança de fazeres a vontade de dormir chegar. Ligaste isto porque tens tanto a dizer, mas tens de ficar calada. Tens de te manter à tona e, para isso, há que silenciar os pensamentos que têm vontade de ser formulados pela tua voz. 
20 dias e estás livre para viver com mais tranquilidade. 20 dias. Não é nada comparado com todo o tempo que passou desde que aqui deixaste o teu último testemunho. Só tens de manter-te com a cabeça fora da água da maré que teima em subir nas alturas menos propícias. 
Suspiro. Suspiro. Suspiro.
Tinta verde no braço direito e uma mistura de cores azuis e vermelhas no esquerdo. Se não fosse isso, provavelmente já tinhas naufragado. A tinta, os abraços, a sensação de que a tua presença faz a diferença a tantas pessoas aquece-te o corpo. Tudo faz sentido. Todo este esforço há-de ser recompensado. 
Pela tinta verde e por todas as outras cores, sabes que não podes deixar que a mistura se torne negra. Lava a caixa de tintas. Limpa cada aguarela até que volte a ter a sua cor normal. Não é difícil, só é preciso tempo.
Tens medo de não ter tempo. 
Tens tempo. Sabes disso. 

sábado, março 19, 2016

Cometa

Os papeis colados na janela estão a perder o seu aspecto normal por causa da humidade. Estranhamente só aconteceu este ano. Há uns papeis que estão ali pendurados há tanto tempo e nunca mudaram de cor... Este foi o ano. 
Estou a falar de papeis, mas o que me trouxe aqui hoje, não foi o papel húmido. Não foi a vontade de registar de forma mais permanente o que neles fui escrevendo. O que me trouxe aqui foi a história que me contaram. 
Por causa dessa história voltei a ver-te. 

Diz-se que antes de morrermos, vemos a nossa vida toda passar-nos à frente dos olhos. Nos filmes esse momento é retratado como uma rápida passagem de imagens com aquilo que é considerado mais importante para a personagem prestes a perder a vida. Gosto de acreditar que é isso que acontece antes de morrermos. Em vez de sentirmos medo, dizemos adeus ao mundo revivendo aquilo que melhor nos fez ao longo da vida. Assim sim, iremos (provavelmente) em paz. 
Acredito que haja outros momentos em que temos o privilégio de assistir a uma montagem cinematográfica de pequenas partes da nossa vida feita por nós e só para nós. Porque é que o nosso cérebro nos sujeita a tal? Por muito que ir buscar memórias recônditas de um tempo diferente do presente possa ser bom e nos estampe sorrisos na cara, pode também trazer a saudade. A saudade desses tempos que já lá foram e não, não há nada que possamos fazer para voltarem. Já foi vivido, está despachado. A sensação de saudade tanto pode ser desesperadamente boa, como desesperadamente inútil, irreal e guiada por picos de sensibilidade XXL. 
Seja por que razão for, venha por onde vier, é nostalgia e não lhe vou chamar outra coisa mesmo que tenha a sensação de me estar a deixar levar por um momento de total fraqueza.

Hoje fiz um filme contigo. Apareceram-me imagens na cabeça que já não via há anos. Imagens que já nem sabia ter vivido. Voltaram, vieram, chegaram, entraram. Sabes o que aconteceu? Dei por mim a limpar lágrimas dos olhos. Parecia fazer sentido sentir-me assim, mas por outro lado, não fazia sentido nenhum. Estás tão longe. Está tudo tão longe, tão dito, tão ultrapassado. Quase que te liguei. Pelos velhos tempos, quase  que peguei no telefone. O que te diria? Não faço a mais pequena ideia. Só sei que naquele momento, qualquer coisa faria sentido.

O momento passou. Fui acordada pela realidade. Uma realidade real. Sem fantasmas do passado. A euforia momentânea que invadiu o meu corpo, desenterrou-me do buraco na terra no qual me estava a afundar. Nunca vais saber que o fizeste. Não to vou dizer porque só te deixaria preocupado.

Como um cometa. Esperei. Quase que pedi. Passou por mim e ateou as entranhas que dele sempre de alguma forma se alimentarão. Mas desapareceu agora.

Fraquezas. Teremos todos sempre. Gostava de te ver, não minto. Talvez dizer-te... Que nunca como crianças.

terça-feira, fevereiro 16, 2016

Invencível? Não.

Não me está a fazer nada bem este diálogo constante com a minha cabeça, mas a verdade é que também não quero preocupar ninguém antes que seja necessário.
Tenho medo.
Tinha de ser... Logo no ano em  que eu deixei de pensar que era invencível.

sábado, fevereiro 13, 2016

Nunca foi

Foi uma saída lenta, muito lenta. A verdade é que todas as tuas saídas foram sempre lentas, muito lentas. Eu é que as fiz lentas, eu dou demasiada importância a coisas pequenas.
A verdade é que esta última foi diferente de todas as outras. Estava à espera que entrasses, que ficasses, que me chamasses e me dissesses outra e outra vez aquilo que já antes foi dito. Estava à espera do mesmo de maneira diferente. Estava à espera, porque estava confiante de que havia algo para dizer. 
Enganei-me. Graças a esse engano percebi finalmente o meu lugar na tua vida. Não tenho lugar. Nem vale a pena dizeres o contrário. As palavras existem para as usarmos, mas temos de moderar o que dizemos se não é aquilo que realmente pensamos. Já te ouvi falar muito. Já acreditei em cenários que pintaste. Já ouvi também muitos silêncios. Já deixei de te ouvir por completo. Nunca foi justo. Fui-me alimentando das palavras que me davas quando te era permitido. Os momentos, mágicos na minha cabeça, eram o suficiente para me manteres ancorada a qualquer coisa que eu nunca soube bem explicar. Terás tu tanta falta de senso assim, Joana? Era por seres tu. Era por me mostrares que ainda existe o especial. Era por me leres e tudo se mostrar simples. 
Nunca foi simples. A simplicidade nunca existiu. Era simples se nos tivéssemos deixado levar alguma vez, mas por ironias do destino, por casmurrice, por andarmos de olhos fechados... Fomos sempre achando que não. 
Numa noite achamos que sim, num encontro inesperado achamos que sim, num telefonema achamos que sim - o resto do tempo fingimos que não nos conhecemos. Fingimos que quando comecei a ir em tua direcção no outro dia para me despedir, não me pedias com os olhos para ficar. Fingimos que eu não me encaixei em ti durante os milissegundos (6 ou 7 a mais que o normal) que dura um beijo na cara. Fingimos...
Foi bom fingir contigo. Foi bom o tempo que passei a montar um castelo na minha cabeça. Foi bom encontrar-te no meio de todos e depois de tudo. Os anos vão passar e vamo-nos vendo quando calhar, quando for sem querer. Conheço-te, mas no essencial serás sempre um estranho. Sei que pensas o mesmo de mim. Hoje, sei que saíste para não mais voltar da mesma maneira. Não foi preciso dizermos nada. Não analisámos, não supusemos, não combinámos. Tirei-te daqui, porque já não tenho espaço para ti. E tu... Tu nem te apercebeste.
E eu deixei de achar que sim.