domingo, dezembro 18, 2022

Ausência de coragem

Ouvir um piano tocar quase sempre me emociona.
É tão mágico que um instrumento consiga expressar tudo aquilo que eu te quero dizer e não consigo. 
Não consigo, porque ainda nem sequer tentei.
Acho que se te chamasse, tu vinhas. 

Acho. 

Não tenho certezas de nada.

Há dias e há noites e há músicas que tocam.
Há ideias que se formam e há conteúdos que não se partilham.
Porquê? Não se partilham porquê?
Se soubesse responder a essa pergunta talvez não estivesse a escrever aqui. 
Já sabes que quando aqui escrevo...

Quando aqui escrevo estou em mim, comigo e não consigo sair. 
Quando aqui escrevo procuro respostas.
Quando aqui escrevo sinto-me a afundar.
Quando aqui escrevo vou ainda mais longe do que devia.
Quando aqui escrevo tento dissecar-me. 

Pára. Dirias. Fala comigo.
Manda-me uma mensagem. Liga-me. Bate-me à porta. 
Não te feches em ti. 

Fecho-me em mim por receio de te intimidar. 
Por receio que te afastes. 
Por receio que me vejas complicada. 

Sou complicada, sou obscura, por vezes incompreensível. 
Formo labirintos na cabeça e procuro saídas. 
Emaranho linhas e fico presa nos nós. 
Sou difícil de perceber, demasiado profunda para ler. 

Fecho-me aqui. Fecho-me assim.
Receio que não gostes de puzzles e que perca o encanto aos teus olhos. 
Vou-me fechar hoje.
Vou-me deitar triste.
Vou ouvir mais pianos a tocar. Deixar que as melodias me levem.
Talvez para me perder. 
Talvez para me desapegar. 

De ti.