sexta-feira, março 31, 2023
segunda-feira, março 27, 2023
E assim, sem demora
sem demora,
enquanto se tenta fugir a simbolismos,
a orquídea dá flor.
segunda-feira, março 13, 2023
Era uma vez uma Hera
quinta-feira, março 09, 2023
De repente. Não mais que de repente.
Náusea.
Gosto muito mais em inglês: motion sickness.
Menos enjoativo.
Além disso é o nome da música que me trouxe aqui. Começou a tocar de repente e de repente, não mais que de repente, eu estava em Madrid com a C. De repente, não mais que de repente, chego à conclusão que esse evento foi há 10 anos e sinto-me nauseada. Positivamente nauseada. Nauseada porque de repente, não mais que de repente, todas as sensações, ideias e ingenuidades de uma vida com menos 10 anos de experiências em cima tomaram conta da minha cabeça. De repente, não mais que de repente, eu estava em Madrid a dançar, a cantar, a ser idiota pelo Retiro e a ver o mundo a passear enquanto bebia uma cerveja na varanda do D.
De repente, não mais que de repente, fiquei leve.
quarta-feira, março 08, 2023
segunda-feira, março 06, 2023
Vou contar-vos uma história
Uma história daquelas bem simples. Uma história que, de tão simples, nem valeria a pena contar, não fosse a minha vontade.
A história acontece numa cidade perto do mar. Há sempre uma brisa no ar que vai ditando o que cada um sente. Parece que brisa traz com ela todas as verdades do mundo. E frio, também traz algum frio à noite.
Os dias passam e a nossa protagonista perde-se em horas passadas na praia, perde-se em horas a tentar ter conversas que a enriqueçam. A tolerância para conversas banais parece cada vez mais escassa. Não sei se o hei-de definir como falta de capacidade ou ganho de perspectiva. Seja qual for a definição que melhor se aplica, nem uma, nem outra é negativa. Todos os papéis espalhados pelo quarto, as mensagens deixadas na areia, a tatuagem no banco de jardim formam os pedaços da história que não vale a pena contar. Ella, a protagonista deste espaço e de todos os que ainda não atravessou, gostava de deixar pedaços do que lhe vai na alma espalhados por aí. Por essa razão, a cidade perto do mar, conhece-a melhor que ninguém.
Enquanto Ella acorda para mais um dia de ociosidade, os pescadores já lançam as redes em alto mar para procurar alimento para tantos outros que sabemos que por aí andam, mas não conhecemos. Ella não seria capaz de ser pescadora. O mar, tanto a arrebata com a sua beleza infinita, como a enche de medo quando nos dias cinzentos bate contra as rochas sem a menor compaixão.
Ella encheu-se de novas perspectivas nos últimos tempos. Coisas da vida, circunstâncias, momentos, são agora apreciados e vividos de uma maneira diferente. Uma maneira mais rica, talvez. Tudo isso contribuiu para que o encontro daquele dia não passasse despercebido a Ella. Deitada na relva do jardim, enquanto lia palavras que alguém escreveu, parou ao sentir algo pousar no seu braço. Rapidamente enxotou o pequeno bicho que lhe fazia cócegas e antes que pudesse voltar a pousar os olhos nas palavras que outro alguém escreveu, viu-o. Era ele... Nunca o tinha visto antes, mas sabia que era ele. Moreno. Cabelo descuidadamente charmoso. Barba charmosa no seu descuido. A maior surpresa: estava a ler as mesmas palavras que outro alguém escreveu que ela. Não vou contar que palavras liam, porque começaria aí a pensar nessa história e não nesta, que de interessante, não tem nada.
A leitura do livro passou a servir de disfarce a partir daquele momento. Ella era assim. Podia estar submersa nas suas ideias e no seu mundo, mas se algo captava a sua atenção, o protagonismo era reassumido. Rapidamente percebeu que ele também a observava e que usava a mesma camuflagem de páginas cheias de palavras que ela. O seu coração começou a bater com mais força. Envergonhada pela descoberta focou o seu olhar na primeira palavra que viu: Roma.
Ella era assim. Independente e confiante até a timidez de criança inocente se apoderar de todas as suas entranhas.
Encadeada pela palavra e pelo sol que teimava em bater contra o livro, demorou, sabe a brisa quanto tempo, a reparar que ele se tinha sentado ao lado dela. Levantou-se abruptamente e olhou para os olhos dele. Os dois com os livros na mão... Os dois... Dois estranhos a olhar um para o outro... Desataram às gargalhadas. Nervosismo combinado com o desconhecido da situação, combinado com Ella saber que era ele.
Não me lembro da primeira palavra que trocaram, nem das outras 23 mil que se seguiram nessa tarde. Mas lembro-me da palavra para a qual Ella olhou quando a sua timidez a obrigou a refugiar o olhar no livro.
Foi Roma. E Roma, ao contrário, lê-se amor.
