domingo, julho 16, 2023

Kintsugi

Atiro-me ao mar,
a água gelada faz-me parar de respirar.

Deito-me com todos os fantasmas,
revisito histórias sem correr perigo.

Atiro as fotografias ao fogo,
junto as cinzas num pote de café antigo.

Apanho todas as migalhas.
Não, nem aos passarinhos satisfazem.

Olho para o relógio,
a mensagem não vem,
não virá,
nunca mais. 

Sinto a imensidão deste vazio dentro de mim,
a fissura é hoje uma cratera.

Fecha.
Cola.
Pinta de ouro.

Encontro-me com as sereias que cantam,
mergulho bem fundo, 
elas puxam-me com as suas vozes.

E eu vou.

Onde a luz já não chega.
Onde os fins do mundo se encontram.

E deixo-me ir.

Até quando?

Até que me saibam ler. 

Sem comentários:

Enviar um comentário