sexta-feira, setembro 20, 2024

Espaços temporais

Escreve mais.
Escreve até não poderes mais.
Escreve até te doer a mão, o pulso, os dedos. 
Escreve porque sentes que é urgente escrever.
Escreve mesmo que não saibas o que escrever.
Escreve nos dias bons.
Escreve nos dias maus. 
Escreve para que te leiam.
Escreve para meteres os textos na gaveta.
Escreve a olhar para as paredes.
Escreve sabendo que um dia terás outro cenário.
Escreve para releres a tua história.
Escreve para descobrires quem és.

Hoje. 

Amanhã. 

Daqui a 10 anos.

Escreve e acrescenta todos os pontos.
Escreve com confiança.
Escreve sem parar.
Escreve e respira. 

Hoje. 

Aqui. 

Antes de tudo.  

sexta-feira, fevereiro 16, 2024

Listas telefónicas

Nunca tive (ou tive e não me lembro) uma lista telefónica que não fosse digital. A minha mãe tinha uma (ou teve várias). Eu lembro-me da pequena lista telefónica verde com um desenho de um morango. 

É preciso ligar a alguém, vamos buscar a lista telefónica. Nela encontramos todos os números importantes e também todos os números que se tornaram obsoletos. Vamos comprar uma lista telefónica nova? Transferir os números de telefone de uma para a outra era uma tarefa morosa, provavelmente cheia de pequenos enganos e, por sua vez, de contactos perdidos para sempre. 

Hoje, nas listas automaticamente sincronizadas por contas e merdas, os números ficam gravados para sempre a não ser que os vamos intencionalmente apagar. O que terá mais impacto: renovar uma lista telefónica analógica e intencionalmente não copiar determinados contactos (e deitar fora a lista antiga perdendo assim qualquer chance de obter o número de telefone de volta) ou ir apagar digital e intencionalmente os contactos de pessoas cujo potencial presença deixou de fazer sentido nas nossas vidas? O que terá mais impacto no nosso interior? Tanto de uma forma como de outra, sabemos que existe sempre alguma forma de se obter novamente um número, mas estou a romantizar, sim. Qual a novidade aí? 

Apaguei muitos números que deixaram de fazer sentido guardar. Largo números, largo pessoas e largo impulsos futuros que se possam materializar em momentos cringe derivados de fragilidades emocionais. Bem sabemos que a vida é feita de momentos em que nos deixamos levar pelas emoções. Nada de errado com isso, mas a verdade é que pouco se ganha com determinados impulsos. 

Largo contactos. Rasgo uma página. Risco o nome e o número com muita força com uma caneta até que deixe de ser visível. Sim, romanticamente, antigamente é que era bom. Tudo tão recheado de simbolismo. Hoje, toca-se duas ou três vezes no ecrã e o nome da pessoa desaparece. Será tudo mais fácil ou tudo mais complicado? Será tudo mais descartável, substituível, mais banal? 

Largo fantasmas. Alguns já com barbas, outros que nem à puberdade chegaram. Largo todos. Romanticamente, só assim o podias fazer. Tu. 

terça-feira, fevereiro 13, 2024

domingo, fevereiro 11, 2024

The order that lies in the chaos

As you seek sense in the narrative, 
you realize, the tale is never truly original. 
Yet in its repetition, a subtle evolution you grasp.

And the heart...
The heart longs for faster heartbeats,
for skipped ones too. 
The heart longs for glimmer, 
just admit it, it's true. 

quinta-feira, fevereiro 01, 2024

Procura-me nas reticências

Amor, 
sinto-te perto.

Amor,
estou de braços abertos.

Amor, 
vamos reinventar-nos juntos.

Amor, 
saboreia o presente comigo.

Amor.
Amor.
Amor.

Quero saber o que vês quando as luzes estão apagadas. Quero dar-te a mão e apanhar sol na cara. Quero ir à praia contigo e beijar o teu peito com sabor a sal. Quero dançar contigo na sala. Quero que brinques com o meu cabelo. Quero que fiques a olhar para mim enquanto escrevo. Quero encostar a minha cabeça no teu ombro e chorar. Quero acordar com sono por termos perdido a noção das horas na noite anterior. Quero que me dês uma flor. Quero pegar em ti e ir olhar para quadros e esculturas e mares. Quero dar-te a mão quando o avião levantar voo. Quero sentir o teu cheiro quando não estás presente. Quero ter saudades tuas. Quero perder-me nos beijos que me vão apanhar de surpresa. 

Amor, 
anda. 

Amor,
estás à espera de quê?

Amor, 
sinto-te perto.

Amor, 
não me deixes fechar braços.

Amor?

Amor?

Amor?!

segunda-feira, janeiro 29, 2024

Apocalipse

Sempre gostei da palavra. Talvez por estar sempre à espera de acontecimentos apocalípticos inspiradores na minha vida. Talvez por sempre ter lidado com a ansiedade causada pela noção de que tudo tem um fim. 

O apocalipse - o fim de tudo. Achava eu. Erradamente. 

Apocalipse, do grego, apokálypsis, significa revelação. 

Não deixa de ser o fim de um tudo. Quando existe uma revelação, significa que reconhecemos algo novo e quando reconhecemos algo novo, inevitavelmente já estamos a presenciar um fim. O fim de um conceito, o fim de uma crença, o fim de um paradigma... 
Quer isto dizer que todos os dias nos encontramos perante um número imprevisível de acontecimentos que se podem revelar pequenos apocalipses. 

Esta ideia tanto me agrada, como me assusta. Podemos passar dias, semanas, meses ou mesmo anos sem viver um apocalipse. Podemos também passar por momentos em que, cada dia, somos expostos a revelações que nos põem em movimento e vão gerando os tais pequenos apocalipses. Apocalipses estes, maioritariamente interiores, profundamente pessoais, muitas vezes pouco perceptíveis a olho instantâneo. A maior parte das vezes só reconhecemos as revelações bem depois do apocalipse. 

Uma revelação - o caos instala-se - a vida como a conhecemos dá uma cambalhota - apocalipse. 

Eu acredito que todos os apocalipses são positivos. Não o identificamos no momento e, muitas vezes, não sabemos lidar da melhor forma com a nova informação que temos em mãos. Agimos, reagimos e só depois da poeira assentar temos acesso à vista panorâmica que se vai anunciando, meio sem jeito, meio tímida, mas muito bonita.  

sábado, janeiro 06, 2024

Se a chuva molhar a roupa que está a secar

Lava-se outra vez. Depois. Mais tarde. 

Fica nua com quem quer ficar nu contigo. 
De roupa. 
De segredos. 
De complexos e de medos.