quarta-feira, outubro 29, 2014

E o Adeus?

Chovia muito. Chovia a potes, cântaros. Chovia mais do que todas as expressões usadas para descrever uma grande chuvada.
Os dois, de roupa encharcada, cabelos molhados, olhos embaciados pelas gotas de água que lhes caíam em cima. Os dois a olhar um para o outro no meio daquele dilúvio. Nem um, nem outro mostrava intenção de entrar em casa. Nem um, nem outro sabia como, ou, queria sair dali. O verdadeiro dilúvio estava a acontecer dentro deles. Sentiam tanto um pelo outro, mas não o suficiente para o saber expressar. Sentiam tanto um pelo outro, mas havia qualquer coisa que os impedia de abrir o espaço necessário para sentirem ainda mais.
O céu chorava por eles a tristeza da separação quase certa. Eles continuavam a olhar-se, a tocar-se, a sentir-se. Para quê? Porquê? Larga-me! Sai!
Nenhum dos dois se movia. Pensavam que se se deixassem estar tempo suficiente, uma ponte se construiria entre o abismo. E, por muito frágil que a construção fosse, lentamente aprenderiam a caminhar por entre as suas fragilidades e criariam assim as suas memórias, juntos.
Mas não foi assim. Estava tudo escrito de outra forma.

Parou de chover. Eles soltaram-se um do outro. Viraram as costas e caminharam em sentidos contrários. Não disseram adeus.

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