domingo, abril 03, 2022

Acto 1

 "Tinhas alguma ordem lógica aqui?" - Ela olhou para ele com um ar confuso. Não será óbvio que tinha uma ordem na organização dos seus livros? Quem é ele para chegar à estante dela e começar a mexer nos livros todos à procura dos que tinham dedicatória? Quem é ele? Ninguém. As dedicatórias eram dela. Bastou um milissegundo para se aperceber das falsas convicções que alimentou nos últimos meses. O vidro partiu-se aos bocadinhos, a magia morreu. E agora? Agora inicia-se o teatro. 


"Hey i like your pictures what are you looking for" - ela disse-lhe que procurava sinais de pontuação. Ele respondeu que estava à procura de amigos e perguntou-lhe de onde é que ela era. Ela ficou incrédula a olhar para o telefone tentando processar tamanha lerdeza. Lerdeza. Que palavra. Não respondeu mais. A narrativa ficou pelo prólogo. 


"Buongiorno principessa" - ok. Querido. Meh. Formalmente sim, tudo o que fez foi atencioso. Ela sente-se desconfortável com coisas que ele diz. Infelizmente não consegue engrenar da mesma forma que ele. Receia que em breve ele lhe faça um convite. Ela vai dizer que sim. Ele tem um cérebro interessante e da última vez que se viram as horas voaram. Risos, poemas e cervejas. Ele gostou dela. Ela sentiu. Gostava de ser tua amiga. E agora? Agora inicia-se a escrita da peça. Vai correr mal. Que se foda. 


"A tua voz não é nada o que eu estava à espera" - ela também não estava à espera de sorrir quando ouviu a voz dele pela primeira vez. Assim é mais fácil. Mensagens de voz sem ter muito tempo para pensar e repensar no que se vai dizer. Tudo a correr bem? Sim. Combina o copo, vá. Tempo passa. Conversa esgota-se. Tic tac. Já não vai dar. Não, não iniciou o teatro desta vez. Ele tinha qualquer coisa. Ela ergue a muralha. Peça fica por escrever.


Acto 2

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