Sempre gostei de observar o aparecimento das letras e consequentemente das palavras enquanto escrevo. Parece magia. A possibilidade de transportar um pensamento para uma página e perpetuá-lo. É mágico. Gosto mais de escrever em papel, mas às vezes apetece-me ouvir o "clic clac" das teclas quando tudo está em silêncio.
Venho aqui a esta hora tardia, porque não consigo dormir. Devias evitar olhar para o ecrã do computador então, Joana. Sim, já sei isso tudo. Hoje é uma daquelas noites em que sei que não vale a pena insistir. Não me acontece muitas vezes, mas hoje sei que preciso disto. Preciso de fugir do dilúvio de reminiscências que as sinapses me estão a entregar e tentar partir para outras ideias.
Isto foi desencadeado pelo filme que comecei a ver. Não, não foi só o filme. O filme ajudou porque me revi. Foi desencadeado pela decisão que tomei. Uma decisão que tinha de ser tomada mais cedo ou mais tarde. Eu acho que veio tarde. Que parva que sou. Que parva que fui. Ingenuidade? Talvez também um bocado. Acho que esperava mais de mim. Como é que depois de apenas um simples acontecimento perdi o equilíbrio da maneira que perdi? Não sei. Gostava de ter sentido as coisas de uma maneira menos infantil. Mas será que tinha sido tão genuíno como foi, se não tivesse agido apenas com o lado emocional? Por muito que me custe admitir, sei que tudo o que aconteceu não podia ter acontecido de outra forma.
Os sentidos novos que ando a encontrar vão ser a alavanca para isto tudo mudar. Não vou cometer o mesmo erro de há uns anos atrás. Por muito pouco, não me deixei afogar. Estava-me a deixar ir agora, bem lá para o fundo, por isso é que precisei do ecrã. Do corte.
Só mais um dia e vou voar. Voar daqui para fora, mudar de cenário. Outros cenários dão-me sempre a possibilidade de enraizar mais as ideias novas ou descobrir o que realmente preciso de fazer para avançar para onde quero. Há uns meses tive uma mudança de perspectiva em relação ao que gostava de construir daqui para a frente e é nessa direção que quero ir, porque pela primeira vez em muito tempo tenho uma certeza. Fui sempre fazendo as coisas no limite. Agora não quero que seja assim, mas para isso também tenho de parar de fazer merdas que me mantém acorrentada a abstrações que não passam de falsas crenças. Temos constantemente falsas crenças e damos significados às coisas que fazem com que seja muito mais difícil desprendermo-nos delas. Acreditamos e agarramos uma ideia por causa do significado que lhe atribuímos. A maior parte das vezes, o significado atribuído a algo, não passa de uma fabricação da nossa cabeça - que só está dentro da nossa cabeça, ou seja, não nos define! Estes produtos da nossa cabeça, podem então ser modificados quando nós quisermos, quando nós decidirmos e quando formos capazes. Há significados mais difíceis de transformar do que outros obviamente, mas acho que o poder está em saber que existe a possibilidade de o fazer, que não estamos entregues e ancorados a traumas do passado ou a determinadas ideias sobre nós próprios. Cada momento novo é um momento novo e nós podemos escolher quem queremos ser a partir de cada novo momento que criamos para nós. Temos de transformar os significados que demos a determinados acontecimentos, ou até a pessoas, para podermos realmente avançar com a cabeça resolvida ("não tenhamos pressa, mas não percamos tempo"). Se todo este processo fosse fácil, eu não estava a escrever sobre ele às 3h23 da manhã.
Por agora chega. Vou tentar processar o resto das ideias a uma hora mais sã. Talvez o faça no avião. Sim, dentro do avião existe um tempo que não existe. Perfeito para divagações da madrugada.
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