domingo, abril 24, 2022

Metamorfose


Ideias formam-se na minha cabeça enquanto caminho pelas ruas, pelos jardins e pelas florestas. Penso sempre que me vou lembrar da intermitência que me chamou a atenção num momento mais oportuno para escrever sobre ela. Raramente acontece. Raramente me lembro. 

Sentada na relva ainda húmida, Ella fechou os olhos e deixou-se ser invadida pela inevitável paz que aquele sítio lhe transmitia. Pegou no caderno e começou a escrever sobre triângulos inacabados. Um cisne foi-se aproximando lentamente. Parou e ficou a olhar para Ella, deixando-se flutuar na água. Ella estava dentro de um videoclipe. O cenário cinematográfico e a música que estava a sair dos auriculares nos seus ouvidos tornou aquele momento idílico. O cisne começou a nadar e Ella sentiu que tinha de o seguir. Atravessou todo o jardim. Observou as árvores, o sol a querer penetrar por entre as folhas e os diferentes tons de verde que os seus olhos reconheciam. 

O cisne saiu da água e foi ter com Ella. Ficaram muito tempo a olhar um para o outro. Nem o cisne, nem Ella se mexiam. Às vezes não precisamos de palavras. Basta olhar para as cores e para as mensagens que quem se cruza connosco traz. O cisne trazia consigo leveza, luz, romance, melancolia, transformação e poesia no movimento. Tal animal majestoso trouxe consigo todas as verdades que Ella precisava de ouvir naquele momento. Chegou carregado de algo tão profundo que Ella não conseguiu compreender inteiramente. Quando lhe ia perguntar se o que estava a acontecer era real, o cisne bateu as asas e voou para longe sem olhar para trás. 

Ella formou um casulo no sítio onde foi abandonada pelo cisne. O paradeiro do cisne não se sabe e reza a lenda, que Ella nunca mais saiu do casulo. 

Lendas rezam-se, sim, mas ninguém sabe que uma mariposa branca pousou ontem no meu braço. 

Sem comentários:

Enviar um comentário