Para eles, nada disso interessa agora. Não trazem bagagem consigo. São apenas abraçados pela pureza do que lhes está acontecer. Ainda bem que assim é. Ainda bem que, pelo menos uma vez na vida, somos capazes de sentir algo sem deixar que o passado corrompa atitudes, pensamentos e sentimentos. Têm todas as primeiras vezes à sua frente. O primeiro envolvimento, a primeira ida ao cinema, a primeira dança, o primeiro "amo-te", a primeira discussão... Vão passar por todas as primeiras vezes sem dar por elas. O valor desses bocadinhos só será apreciado quando lhes começar a fazer falta. Quando começarem a ser corrompidos pela sua própria cabeça, que sendo humana, cumprirá bem o seu papel de instalar a dúvida, a tentação, a vontade de procurar novas sensações. Nada é para sempre, mas também acredito que nada realmente acaba. Fica sempre algo, podendo esse algo servir para alguma coisa ou para absolutamente nada. Mas nada acaba mesmo.
Invejo os miúdos não corrompidos. Invejo os miúdos que se apaixonam com toda a pureza que só os curtos anos de vida possibilitam. Não digo que não seja possível viver algo puro e verdadeiro, mesmo com 23 quilos de bagagem atrás de nós. A bagagem fica para trás e novas histórias de amor tomam um lugar, talvez até mais intenso que o anterior. É a maneira de encarar, de agir, de questionar que invejo. Penso que, quanto mais nos desiludimos, mais facilmente somos capazes de deixar passar um toque no braço sem lhe dar importância. Toque esse, que era daquela pessoa, da nossa pessoa, da pessoa que estávamos à espera. Mas não a vimos, não a sentimos, porque parámos para pensar. Fugimos, porque: "não, nem pensar, não me quero magoar outra vez, vai ser só mais um falhanço". Andamos então de olhos vendados, mas sempre à procura. Abrimos os olhos e não vemos. Quando damos a mão, caímos. Dá a sensação que andamos sempre à beira do abismo. E cair? Cair outra vez, nem pensar! Dizes tu...
Todos caímos outra vez, está na nossa natureza. Que piada teria se não caíssemos e se não tivéssemos vertigens? Vale a pena. Sei que vou cair, cair e cair mais uma vez. Nas entrelinhas, peço mais um bocadinho de romance.
Sem exageros, sem convenções cavalheirescas. O mínimo de romance fica sempre bem. Lá por ser óbvio o que uma pessoa quer da outra... Que cada abordagem faça lembrar por uma fracção de segundo, os miúdos sentados no banco de jardim. Que cada abordagem demonstre o mínimo de esforço e originalidade para a evitar que nos sintamos como meros objectos em forma de corpo humano. Que arranque uma sensação positiva, nova, explorável.
Só um bocadinho mais de romance. Por favor.
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