domingo, dezembro 18, 2022

Ausência de coragem

Ouvir um piano tocar quase sempre me emociona.
É tão mágico que um instrumento consiga expressar tudo aquilo que eu te quero dizer e não consigo. 
Não consigo, porque ainda nem sequer tentei.
Acho que se te chamasse, tu vinhas. 

Acho. 

Não tenho certezas de nada.

Há dias e há noites e há músicas que tocam.
Há ideias que se formam e há conteúdos que não se partilham.
Porquê? Não se partilham porquê?
Se soubesse responder a essa pergunta talvez não estivesse a escrever aqui. 
Já sabes que quando aqui escrevo...

Quando aqui escrevo estou em mim, comigo e não consigo sair. 
Quando aqui escrevo procuro respostas.
Quando aqui escrevo sinto-me a afundar.
Quando aqui escrevo vou ainda mais longe do que devia.
Quando aqui escrevo tento dissecar-me. 

Pára. Dirias. Fala comigo.
Manda-me uma mensagem. Liga-me. Bate-me à porta. 
Não te feches em ti. 

Fecho-me em mim por receio de te intimidar. 
Por receio que te afastes. 
Por receio que me vejas complicada. 

Sou complicada, sou obscura, por vezes incompreensível. 
Formo labirintos na cabeça e procuro saídas. 
Emaranho linhas e fico presa nos nós. 
Sou difícil de perceber, demasiado profunda para ler. 

Fecho-me aqui. Fecho-me assim.
Receio que não gostes de puzzles e que perca o encanto aos teus olhos. 
Vou-me fechar hoje.
Vou-me deitar triste.
Vou ouvir mais pianos a tocar. Deixar que as melodias me levem.
Talvez para me perder. 
Talvez para me desapegar. 

De ti.

domingo, setembro 11, 2022

Em menos de 1 minuto

Pegaste-me no braço e deste um beijo na minha tatuagem.

terça-feira, agosto 16, 2022

Gustav

Mahler plays.

Well, not Mahler, but his symphony.

Birds fly by my window and the sky is so beautifully blue.

I sit on the floor. 

This is just too much to be felt on a soft surface. The piano plays harder. I get softer. Within myself lie all of the unanswered questions the world has ever asked. 

Hey, how are you managing so much pain?

The music. The music makes my heart smile through it. It's hurting, yes.. Every step of the way. Not gonna lie. But it's a pain that I have to feel. I need to feel all of this. So I can eventually walk away from it.

No, walking away is not possible. You know too much, baby. And you just love to feel everything so deeply. You need it. You crave it. You're not yourself without it. 

Oh, how I wish I could help you get through it. Clear up all of your thoughts. Scrub away all of the pain they caused. Put a bit of make-up over all of the scars. 

Go. Pour yourself another glass of wine. It's fine. Eitherway, you're a great kisser. 

The symphony keeps playing. You keep on feeling every stroke of the piano deep inside of your skin. You're happy.

It hurts.

After all of this... You will have grown a bit more, get to know yourself a little bit better and maybe, just maybe, it won't hurt as much as before. 

sábado, agosto 13, 2022

Avisa-me quando chegares a casa

Não foi só uma palavra. 

Foram muitas as palavras trocadas.

Palavras trocam-se.

Alguém forma uma ideia sobre ti e sobre mim. 

Uma ideia apenas. 

É difícil dar a conhecer todos os enredos que nos transformaram naquilo que somos.

É difícil explicar os eventos que foram dando forma às nossas ideias, às nossas manias, aos nossos medos.

Apesar de tudo, vamos tentando.

Vamos trocando enredos uns com uns outros.

Vamo-nos identificando com histórias e ideias. 

Vamo-nos aproximando ou afastando de alguém.  

Vamos pedindo para nos avisarem quando chegarem a casa com a esperança que um dia a frase se faça sentir cá dentro e se faça sentir na outra pessoa. 

Já pedi para me avisarem. Já me pediram a mim para avisar. 

Ainda não percebi quando te vou pedir a ti.

sexta-feira, agosto 05, 2022

The dance

The moon hit the sky,
and way before that,
you were already in it. 

You could blame alcohol. 
You won't, darling.

You blame the eyes and the smiles.
The laughs and the spilled glasses. 
The unlocking of hearts.
The shared darkness. 
The unsaid parts.

You blame the silence and the words written on paper.
The cooking and the playlists, the singing and the banter.
The immediate presence that left worries or plans for later. 

You blame the hours turning to past,
you blame the clock you didn't mind spinning.
The stories of designs scratched on the skin 
and the tales that tattoed your hearts from the very beginning. 

You blame the lips, the kisses, the touch.
The desperation voiced in a whisper.
The remarkable absence of decency, 
and the longing for, just one more, round of twister. 

You blame the forced rhymes and even the unforced ones too, 
you try to blame something. 
It seems like the right thing to do. 

But you know what?
You can't blame flow and life is flux. 
Get high on every moment, feel every rush. 
The heartbeats, as you go, will light up the way,
as long as you feel them, know all is okay. 
Watch the moon, little girl, long for the boy watching it too,
you're not weak for that, you're just being you.
The path may be wild, but it's fine, my darling. 
One day, all the answers, in it, you will find.

segunda-feira, agosto 01, 2022

sexta-feira, julho 22, 2022

Chão e Alcatifas

Há 8 anos atrás sentaste-te no chão na casa de Viseu. Recusaste um jantar. Recusaste sair e sentaste-te no chão. Jeff Buckley nos ouvidos. Um caderno e uma caneta no colo. 
A letra da "Lover, you should've come over" escreveu-se no caderno e entranhou-se em ti. Unhas cravadas na tua pele. Abriram um portal para o teu interior e fizeram com que te deitasses no chão. Aquela alcatifa castanha abraçou-te e tu deixaste-te ficar ali durante muitas horas. Não sabes quantas. Não havia mais nada ali. Não havia mais nada no teu mundo. Estavas a ser consumida por um vazio tão grande que não eras capaz de dar o menor dos teus passos em direção a algo que te salvasse. Não sabias como. A dor daquele vazio era tão forte que a sentias entranhar-se em cada centímetro do teu corpo. A tua garganta estava fechada com um nó tão apertado que às vezes até te custava respirar. 

E hoje?

Hoje relembras este momento sem vontade de voltar a vivê-lo, mas com algum carinho, por ter sido o primeiro. Se não te tivesses rendido ao chão todas as vezes que tiveste de te render ao chão, também não terias deixado que o teu corpo passasse pelos processos de purga. Foram vários os pedaços de chão que te abraçaram por diferentes razões, em diferentes momentos da tua vida. Só sentes que uma casa é tua quando passas por esse processo no novo chão. Aí sim, encontras o conforto do espaço e a segurança que, dali, não passas. É só deixar o tempo andar. Eventualmente levantas-te e segues a tua vida, mas tens sempre um chão, um tapete, uma alcatifa onde as lágrimas das tuas lamúrias caem e secam. 

Esta casa?

Esta casa já te viu no chão. Viu-te cair. No dia em que abriste a porta de casa com as lágrimas já a querem sair. Lembro-me como deixaste tudo cair e te deixaste cair com tudo. No chão. Estava frio e tu ali ficaste. De casaco vestido. Botas calçadas. A ver um charco de lágrimas formar-se na madeira. Esse foi o momento em que sentiste esta casa tua. 

Se as paredes desta casa falassem... Descobriste tanto de ti aqui. Até a Alice encontraste enquanto habitavas este espaço. E queres ouvir um segredo? 

You can't always get what you want
but if you try sometime, well, you just might find,
you get what you need!

sábado, julho 16, 2022

Gostava de usar o teu nome nas costas

Vestir a tua camisola antiga, no dia seguinte, de manhã cedo.

Aquela do clube em que jogavas quando eras pequeno. 

Gostava de ir almoçar contigo numa
esplanada ao sol. 
Com vista para o lago, 
com vista para as árvores, 
com vista para ti. 

Como aquela miúda loira usava o nome dele, 
gostava eu de usar o teu nome nas costas.

terça-feira, julho 05, 2022

Deambulando apaixono-me

Pela miúda que me atendeu no Starbucks do aeroporto.

Pelo rapaz no mercado de rua. 

Pelo sorriso da mulher que me disse bom dia ao sair da escola. 

Pelo gajo dentro daquela loja de roupas. Que perfil, que jawline, que olhar. 

Pela simpatia da Ivonne.

Por aquele gajo no parque das montanhas.

Pelo bigode irritante do gajo no comboio. 

Pela cor dos olhos da miúda sentada à minha frente no avião. 

Pela presença presente dos putos e por me terem lembrado que sou uma criança. 

Pelo gajo que vageou sozinho pelo palco.

Pelas coisinhas brancas que voavam por todo o lado.

Pelo pai, o filho e o avô a darem toques na bola. 

Pela forma como o R. disse: "confia em mim".

Pelos arrepios que as mãos fizeram o meu corpo produzir. 

Pelo livro que ninguém me disse para ler. 

Pelos shining eyes para os quais o D. me alertou.

Pelos novos caminhos que descobri querer escrever.

E um dia

vou-me apaixonar por ti. 

sexta-feira, julho 01, 2022

Apaixonada

Apaixonada pela palavra APAIXONADA.

APAIXONADA apaixona-me o cérebro.

O cérebro de um apaixonado sofre de uma moca natural e constante.

É habitado por uma neblina saudável(?).

Apaixonada por ti.

Apaixonado por mim.

Acho que me estou a apaixonar por ti.

Uma apaixonado também se esconde.

Uma apaixonada pode não perceber. 

Apaixona-me essa paixão que tens por gestos mundanos.

Se me apaixonar...

Depois de te conhecer...

Fim da vida como a conheço. 

Apaixona-me.

Apaixono-me devagarinho por ti. 

sábado, junho 25, 2022

Fila do supermercado

Conversas sobre os exames nacionais. Partilham-se ideias, notas, decisões tomadas. Olho para elas, para o cabelo esticado na perfeição, para a mala (provavelmente cara) pendurada no ombro e para as merdas que estão a comprar para comer. Gostava de lhes dizer que há coisas que vão perder importância com o passar do tempo e outras tantas que se vão tornar importantes. Gostava de lhes dizer para largarem as preocupações, que o tempo as vai ajudar a chegar onde devem chegar, não precisam de pensar tanto. 
Não precisam de pensar tanto, nem tão estupidamente. 
Não digo nada. 
Espero a minha vez. 

quinta-feira, junho 23, 2022

Wicked game

Para ela foi tudo. 
A natureza da miúda não permitia que tivesse sido de outra forma.

Para ele foi quase nada.
Um rabisco no caderno de experiências.

Agora que ela o sabe, 
agora que a verdade foi cantada,
ele perdeu-a. 
Perdeu-a sem saber que alguma vez a teve.

As antigas canções de amor falam de uma forma que bate mais cá dentro. 
Porque, como dizia o outro, "antigamente é que era bom".

Ei, saudades tuas, outro. 
Ias sorrir como eu estou a sorrir agora se lesses isto. 
Mágico como as linhas de pensamento mudam.
Mágico para onde esta conversa me levou. 
Só eu sei. 

sábado, junho 11, 2022

Qual é a tua ideia?

Dizeres que vens e que vais.

Qual é a tua ideia?

Mostrares vontade de me vires dares um beijinho?

Qual é a tua ideia?

Passarem os dias e não dares notícias.

Qual é a tua ideia?

Mexeres comigo um bocadinho outra vez.

Qual é a tua ideia?

Não te posso dar nada.

Qual é a tua ideia?

Esta história já foi escrita.

Qual é a tua ideia?

Eu nunca acreditaria.

Qual é a tua ideia?

Nós nunca faríamos sentido.

Qual é a a tua ideia?

Já passou demasiado tempo, sei demasiadas coisas sobre ti.

Qual é a tua ideia?

Por favor, nunca mais roubes nenhuma ideia de mim.

sexta-feira, junho 10, 2022

Farô x 3

Queres esperar aqui pelo teu voo?

Finde es eine schöne Idee. 

Atirar objectos para dentro do armário. 
Vestir umas calças e um top.
Não este preto, não. Demasiado "anda cá".
Merda, está tudo desarrumado. 

Hey, habe gerade ein Uber bestellt. 

Tenho gelo. Pouco. Chega para o gin. 
Loiça para dentro da máquina de lavar. 
Fechar a porta do quarto. 

Espelho.
Boa cor de pele. Cabelo fixe. Tão comprido.
 
Bin schon unten.

Histórias desbobinam-se.
Que olhos. Que cor.
A intensidade com que focas os teus olhos nos meus enquanto falas.
Eu também sei jogar esse jogo. Cuidado. 
Focamos. Sorrisos. 
Gin de lado.
Tocas-me na perna. 
Aproximo-me. Um bocadinho só. 
Ensino-te palavras em português. 
Tu repetes. És cute.
Olho para baixo a sorrir. 
Beijo. 

Dou-te a mão e levo-te para o quarto. 
Agarras-me por trás e começas-me a tirar a roupa. 
Segue-se a descoberta de um talento difícil de ignorar.
Habilidade, maestria, aptidão?
Arrepio. Contorção.
Não sei quem és, não sei se te vou ver outra vez,
mas flashes do que me fizeste ainda não pararam de invadir a minha cabeça.

Warum lachst du denn?

Fizesses tu ideia do dom que vive em ti.

domingo, junho 05, 2022

Impecável

Costumas vir aqui?

Sim, costumo estar no meio da rua, entre multidões de pessoas, enquanto música popular é cantada de uma varanda e o ar está envolto de cheiro a sardinhas. 

Impecável...

quarta-feira, junho 01, 2022

Máquina de escrever

Lembro-me que tinha uma máquina de escrever quando era pequena. Era azul e amarela com teclas vermelhas. Não sei que idade tinha quando a recebi, nem guardo memórias de alguma carta escrita na dita máquina. Lembro-me de ser chato de usar. Bastava um erro para arruinar toda uma folha. Sim, porque quando escrevemos à máquina também procuramos algum tipo de perfeição. Só tenho memória disso. De ser chato. O que aconteceu à máquina? Onde a guardava? Quanto a usei? Não sei. Talvez pergunte aos meus pais. Talvez eles façam ideia. 

Quem queres iludir? É óbvio que eles não sabem. O meu pai sempre alheio à realidade. Via-nos, mas nunca olhou para nós. Para mim e para o meu irmão. Nós estávamos lá. Presentes naquela casa, mas sem sermos vistos. Fazíamos coisas todos juntos, ríamos e fortalecíamos ligações em momentos esporádicos a caminho de Viseu, mas o essencial de cada um de nós... Não, isso não. Isso ele nunca quis ver. Falta de capacidade? Atenção? Preocupações com êxitos académicos, a correcta conjugação de verbos, a falta de plural no verbo haver, a resposta exageradamente detalhada a todas as perguntas, a possível oferta de vinte CD's caso adivinhássemos o artista de determinada música.... O meu pai é uma personagem. Disse-lhe hoje que um dia podia escrever um livro sobre ele. Já é o segundo livro que digo querer escrever. O livro com a história da Z. e um livro sobre o meu pai. Enfim. Pais. 
Os meus pais fizeram tantas coisas mal, mas outras tantas, bem. Havia uma casa, havia tudo o que nós queríamos, havia pouco controlo. Nos anos mais complicados de um adolescente e mesmo na pós-adolescência, quando vivemos um momento crucial de descoberta de quem somos, do quem e o que queremos ser. Um momento em que a orientação certa pode ter um impacto forte no futuro. Eu e o meu irmão não tivemos orientação. Tivemos de nos orientar sozinhos. A liberdade imposta e a cegueira dos nossos pais foram-nos deixando ir. E nós fomos e o meu irmão soube fazer as coisas, ou melhor, ter a noção do que tinha de fazer, melhor do que eu. Eu andei perdida durante tanto tempo e ninguém me deu um estalo na cara. O estalo foi-me dado pelo tempo, pela vida. Acordei, comecei a mexer-me e a fazer o que tinha de fazer para me libertar totalmente, para me transformar em mim. Perdi muito tempo. Será que teria perdida todo esse tempo se tivesse recebido a tal orientação e um bocado de tough love? Não sei. Não é importante agora. Agora está tudo bem. 
Agora guardam-se memórias, tiram-se conclusões sobre as razões de sermos como somos e, de certa maneira, culpa-se os pais. Eu nos os quero culpar. Sempre foram duas crianças a lidar com a vida e será assim para sempre. Se um dia tiver filhos, sei exactamente como não vou ser com eles, que atitudes não vou ter e como quero lidar com os desafios que educar alguém impõe. É difícil. É muito mais difícil do que se imagina e, independentemente dos livros escritos, ninguém sabe bem o que está a fazer. Por isso digo, sei o que não vou fazer. O resto é surpresa. É importante que a pessoa com quem escolhemos fazer bebés tenha ideias e ideais parecidos com os nossos, para que se trabalhe em equipa. Acho que em equipa tudo vale a pena. Se os pais souberem conversar, discordar e rir sobre o ser que estão a ajudar a crescer, tudo se torna mais fácil e fluído. Se um dia tiver bebés, gostava que fosse com uma pessoa que queira também formar essa equipa comigo, que saiba gozar com o puto e com as nossas falhas, que veja as coisas a sério, mas também a brincar. Isto é tudo um jogo onde não se conhece o final. Que se aproveitem bem os desafios. 

Comecei a escrever sobre a minha máquina de escrever, não foi? Uma coisa leva à outra e de repente estamos numa outra Ebene de ideias e assim, sem saber ler nem escrever, a cada dia que passa consigo explicar melhor a minha tatuagem. 

domingo, maio 29, 2022

segunda-feira, maio 23, 2022

A boleia

Um semi-estranho a conduzir o carro.

Olhamos um para o outro através do espelho retrovisor. 

Ele põe boa música a tocar no rádio. 
Mexe-se da mesma forma que eu quando gosta do que ouve. 
Canta. Mexe a cabeça. Olha para mim.
Eu quero mexer-me também.

Evito. 
Conheço as músicas todas. 
Não posso alimentar a química, vá. Não pode ser. 

Ele conduz muito depressa.
Pára, não tenhas pressa, mas vai. 
Gosto de sentir a velocidade. 

Faz-me uma pergunta para eu responder com uma piada e fazer-te rir outra vez.
Não, não. Não sorrias assim. 

A mão no volante.
Os olhos atrás dos óculos escuros.
O cabelo descuidado.
A mão no volante.
O sorriso.

A tua mão no volante.

E eu aqui atrás. 
Em guerra contra a vontade de pôr essa mão em mim.

quinta-feira, maio 12, 2022

Inquieta

 "O destino, quando lhe dá para aí, é capaz de escrever por linhas tortas e torcidas tão bem como Deus, ou melhor ainda."

Que se fodam os pensamentos alheios. Que se fodam ideias sobre mim. Que se foda quem não me viu. Que se fodam obrigações que achamos serem impostas. Que se foda se perco tempo perdida em mim. Que se foda o aspecto, a roupa da cama e as cores que não agradam a todos. Que se foda esconder-me. Que se foda que não gostes do meu gosto musical. Que se fodam os livros que não li, os assuntos sobre os quais não tenho opinião formada. Que se foda evitar dizer merdas com medo que não gostem. Que se foda achar que sou insegura. Que se foda quem não me acha piada. Que se foda tudo o que não importa. Que se foda também o que importa, porque inevitavelmente chega um dia em que deixa de importar. Que se foda quando bebo demasiado vinho. Que se foda que os vizinhos me oiçam a cantar. Que se foda quando oiço música de ir ao rabo. Que se foda se fui demasiado intensa, que se foda a ideia que passo, que se foda o que dizem. Que se foda a marca que deixo nas pessoas. Que se foda se não deixo marca nenhuma. Que se foda tudo o que foi. Que se foda o que podia ter sido. Que se foda não ter dito o que devia. Que se foda o tempo que demoro até ser eu com alguém. Que se foda não acreditar. Que se fodam as mensagens, os telefonemas e as cartas que se extraviaram. Que se foda o tempo que passa. Que se foda não estar preparada. Que se fodam as conversas sobre bebés. Que se foda o corpo cansado. Que se foda fugir. Que se foda evitar. Que se foda perder tempo. Que se foda não ver. Que se fodam as ligações especiais. Que se fodam os cabelos espalhados pelo chão. Que se foda a garrafa de água vazia. Que se foda o saco de boxe. Que se foda a roupa espalhada pelo quarto. Que se foda se pinto mal. Que se fodam as apps. Que se foda ter sempre a mesma conversa. Que se foda a roseira que quer morrer. Que se foda ter medo de dizer não. Que se fodam os cheiros que nos levam em viagens no tempo. Que se foda o tempo que estou a demorar a ler o livro. Que se fodam os poemas que não compreendi. Que se fodam os armários da cozinha. Que se foda a barata que queria entrar comigo no prédio. Que foda quem olha para mim. Que se fodam os números. Que se foda o calor. Que se fodam as almofadas a mais. Que se foda que o mercado esteja em baixo. Que se fodam os gráficos. Que se fodam os elefantes. Que se foda o telemóvel. Que se foda este computador. Que se foda a roupa para o casamento. Que se fodam os sapatos que ainda não comprei. Que se foda a transformação. Que se foda a guerra. Que se foda o amor. Que se foda a aranha que se atrapalhou e caiu. Que se foda a coerência. Que se fodam as ilusões. Que se fodam as opiniões. 

 "O destino, quando lhe dá para aí, é capaz de escrever por linhas tortas e torcidas tão bem como Deus, ou melhor ainda" 

O resto? 

Que se foda. 

segunda-feira, maio 02, 2022

Chave do Euromilhões?

6.

13.

15.

18.

27.

O mês especial sempre foi Maio. 

29 dias para uma possível descoberta de estrelas. 


History in reverse.

segunda-feira, abril 25, 2022

Eos

Se existe alguém que pode personificar o alvorecer agora - és tu. 

domingo, abril 24, 2022

Metamorfose


Ideias formam-se na minha cabeça enquanto caminho pelas ruas, pelos jardins e pelas florestas. Penso sempre que me vou lembrar da intermitência que me chamou a atenção num momento mais oportuno para escrever sobre ela. Raramente acontece. Raramente me lembro. 

Sentada na relva ainda húmida, Ella fechou os olhos e deixou-se ser invadida pela inevitável paz que aquele sítio lhe transmitia. Pegou no caderno e começou a escrever sobre triângulos inacabados. Um cisne foi-se aproximando lentamente. Parou e ficou a olhar para Ella, deixando-se flutuar na água. Ella estava dentro de um videoclipe. O cenário cinematográfico e a música que estava a sair dos auriculares nos seus ouvidos tornou aquele momento idílico. O cisne começou a nadar e Ella sentiu que tinha de o seguir. Atravessou todo o jardim. Observou as árvores, o sol a querer penetrar por entre as folhas e os diferentes tons de verde que os seus olhos reconheciam. 

O cisne saiu da água e foi ter com Ella. Ficaram muito tempo a olhar um para o outro. Nem o cisne, nem Ella se mexiam. Às vezes não precisamos de palavras. Basta olhar para as cores e para as mensagens que quem se cruza connosco traz. O cisne trazia consigo leveza, luz, romance, melancolia, transformação e poesia no movimento. Tal animal majestoso trouxe consigo todas as verdades que Ella precisava de ouvir naquele momento. Chegou carregado de algo tão profundo que Ella não conseguiu compreender inteiramente. Quando lhe ia perguntar se o que estava a acontecer era real, o cisne bateu as asas e voou para longe sem olhar para trás. 

Ella formou um casulo no sítio onde foi abandonada pelo cisne. O paradeiro do cisne não se sabe e reza a lenda, que Ella nunca mais saiu do casulo. 

Lendas rezam-se, sim, mas ninguém sabe que uma mariposa branca pousou ontem no meu braço. 

segunda-feira, abril 11, 2022

Não se dorme, divaga-se

Sempre gostei de observar o aparecimento das letras e consequentemente das palavras enquanto escrevo. Parece magia. A possibilidade de transportar um pensamento para uma página e perpetuá-lo. É mágico. Gosto mais de escrever em papel, mas às vezes apetece-me ouvir o "clic clac" das teclas quando tudo está em silêncio.

Venho aqui a esta hora tardia, porque não consigo dormir. Devias evitar olhar para o ecrã do computador então, Joana. Sim, já sei isso tudo. Hoje é uma daquelas noites em que sei que não vale a pena insistir. Não me acontece muitas vezes, mas hoje sei que preciso disto. Preciso de fugir do dilúvio de reminiscências que as sinapses me estão a entregar e tentar partir para outras ideias. 

Isto foi desencadeado pelo filme que comecei a ver. Não, não foi só o filme. O filme ajudou porque me revi. Foi desencadeado pela decisão que tomei. Uma decisão que tinha de ser tomada mais cedo ou mais tarde. Eu acho que veio tarde. Que parva que sou. Que parva que fui. Ingenuidade? Talvez também um bocado. Acho que esperava mais de mim. Como é que depois de apenas um simples acontecimento perdi o equilíbrio da maneira que perdi? Não sei. Gostava de ter sentido as coisas de uma maneira menos infantil. Mas será que tinha sido tão genuíno como foi, se não tivesse agido apenas com o lado emocional? Por muito que me custe admitir, sei que tudo o que aconteceu não podia ter acontecido de outra forma. 

Os sentidos novos que ando a encontrar vão ser a alavanca para isto tudo mudar. Não vou cometer o mesmo erro de há uns anos atrás. Por muito pouco, não me deixei afogar. Estava-me a deixar ir agora, bem lá para o fundo, por isso é que precisei do ecrã. Do corte. 

Só mais um dia e vou voar. Voar daqui para fora, mudar de cenário. Outros cenários dão-me sempre a possibilidade de enraizar mais as ideias novas ou descobrir o que realmente preciso de fazer para avançar para onde quero. Há uns meses tive uma mudança de perspectiva em relação ao que gostava de construir daqui para a frente e é nessa direção que quero ir, porque pela primeira vez em muito tempo tenho uma certeza. Fui sempre fazendo as coisas no limite. Agora não quero que seja assim, mas para isso também tenho de parar de fazer merdas que me mantém acorrentada a abstrações que não passam de falsas crenças. Temos constantemente falsas crenças e damos significados às coisas que fazem com que seja muito mais difícil desprendermo-nos delas. Acreditamos e agarramos uma ideia por causa do significado que lhe atribuímos. A maior parte das vezes, o significado atribuído a algo, não passa de uma fabricação da nossa cabeça - que só está dentro da nossa cabeça, ou seja, não nos define! Estes produtos da nossa cabeça, podem então ser modificados quando nós quisermos, quando nós decidirmos e quando formos capazes. Há significados mais difíceis de transformar do que outros obviamente, mas acho que o poder está em saber que existe a possibilidade de o fazer, que não estamos entregues e ancorados a traumas do passado ou a determinadas ideias sobre nós próprios. Cada momento novo é um momento novo e nós podemos escolher quem queremos ser a partir de cada novo momento que criamos para nós. Temos de transformar os significados que demos a determinados acontecimentos, ou até a pessoas, para podermos realmente avançar com a cabeça resolvida ("não tenhamos pressa, mas não percamos tempo"). Se todo este processo fosse fácil, eu não estava a escrever sobre ele às 3h23 da manhã. 

Por agora chega. Vou tentar processar o resto das ideias a uma hora mais sã. Talvez o faça no avião. Sim, dentro do avião existe um tempo que não existe. Perfeito para divagações da madrugada.

sexta-feira, abril 08, 2022

Um passo para a frente e dois para trás.

Já estás habituada à dança.
Não gostas, mas já sabes que é assim. 
Conclusões deixam de ser incontestáveis. 

A vibração desce. 

Há algo estranho no ar. 
Todos os dias encontras alguém inesperadamente.
O que é que se passa?
E o encontro cinematográfico de sexta?
Se tivesse sido há uns anos ficavas a bater mal durante uns dias. 

A vibração sobe.

Que crescida que estás. 
Que bem que trabalhas as neuroses pontuais. 
E estão estas coisas a acontecer agora porquê? 

A vibração atinge um máximo.

Estás fodida. Foste tu que chamaste isto tudo. 
Estás fodida, mas sabes que tinha de ser assim.
Tens de levar tudo ao extremo,
tens de ter todas as sensações.
A torre cai. 
Tu cais.
Escombros. 

A vibração atinge um nível equilibrado. 

Vamos embora.
Um passo para a frente e dois para trás.

quarta-feira, abril 06, 2022

segunda-feira, abril 04, 2022

Crypto

 The end of life as she knew it.

domingo, abril 03, 2022

Acto 1

 "Tinhas alguma ordem lógica aqui?" - Ela olhou para ele com um ar confuso. Não será óbvio que tinha uma ordem na organização dos seus livros? Quem é ele para chegar à estante dela e começar a mexer nos livros todos à procura dos que tinham dedicatória? Quem é ele? Ninguém. As dedicatórias eram dela. Bastou um milissegundo para se aperceber das falsas convicções que alimentou nos últimos meses. O vidro partiu-se aos bocadinhos, a magia morreu. E agora? Agora inicia-se o teatro. 


"Hey i like your pictures what are you looking for" - ela disse-lhe que procurava sinais de pontuação. Ele respondeu que estava à procura de amigos e perguntou-lhe de onde é que ela era. Ela ficou incrédula a olhar para o telefone tentando processar tamanha lerdeza. Lerdeza. Que palavra. Não respondeu mais. A narrativa ficou pelo prólogo. 


"Buongiorno principessa" - ok. Querido. Meh. Formalmente sim, tudo o que fez foi atencioso. Ela sente-se desconfortável com coisas que ele diz. Infelizmente não consegue engrenar da mesma forma que ele. Receia que em breve ele lhe faça um convite. Ela vai dizer que sim. Ele tem um cérebro interessante e da última vez que se viram as horas voaram. Risos, poemas e cervejas. Ele gostou dela. Ela sentiu. Gostava de ser tua amiga. E agora? Agora inicia-se a escrita da peça. Vai correr mal. Que se foda. 


"A tua voz não é nada o que eu estava à espera" - ela também não estava à espera de sorrir quando ouviu a voz dele pela primeira vez. Assim é mais fácil. Mensagens de voz sem ter muito tempo para pensar e repensar no que se vai dizer. Tudo a correr bem? Sim. Combina o copo, vá. Tempo passa. Conversa esgota-se. Tic tac. Já não vai dar. Não, não iniciou o teatro desta vez. Ele tinha qualquer coisa. Ela ergue a muralha. Peça fica por escrever.


Acto 2

sexta-feira, abril 01, 2022

Ómicron

No outro dia comecei a contar uma história. 
Uma história que ficou inacabada, sem final triste, feliz ou neutro. 

Já devia haver um vírus a percorrer as minhas células.
As ideias ficaram turvas,
as palavras deixaram de se formar
e restou uma opção: hibernar. 

Quem diria que uma hibernação primaveril seria sinónimo de serendipidade?

Talvez tenham sido as alucinações causadas pelo estado febril,
talvez as epifanias transportadas por filmes aleatórios,
talvez as músicas que foram revisitadas numa condição cerebral débil. 

Não sei. Sei muito pouca coisa. 

Vieste em boa hora, Ómicron. 
Juntar um pouco mais de simbolismo ao processo. 
Mais uns dias e a metamorfose completa-se. 
Cada vez mais acho piada a esta capacidade.
E a Kausalketten, também acho cada vez mais piada a Kausalketten.

(Ödipus - Ómicron - gesto idiota)

sábado, março 12, 2022

The day a dog killed a dove

Weird synchronicities being noticed.
Being noticed or being looked for?
Doesn't matter. 
She wasn't looking for them the other day.

That day she wasn't swimming in lakes in her mind.
That day she managed to be present,
a dog chased a dove and killed it in front of her.
The day after she heard a song about birds flying the wrong way,
black and white feathers were left on the ground in front of her feet
and she just sat still and waited.

She waited.

What was it? Two second interval between the moment that dove was just minding its business and the moment it was being tossed around in that dog's mouth? 

SNAP. It's that quick. Life ended in a snap of fingers. Yin yang.

Weird synchronicities being noticed.
Being noticed or being looked for?
Doesn't matter.
She wasn't looking for them the day a dog killed a dove at her feet.

Incomoda-me

Quando as pessoas não sabem manter uma distância socialmente aceitável.